O sonho de vender a casa própria para investir em um novo lar virou um pesadelo para uma gestora comercial, moradora do CPA 3, em Cuiabá. Após fechar negócio com um casal que prometeu financiar o imóvel, ela recebeu apenas a entrada e viu o restante do pagamento nunca se concretizar. O financiamento, que deveria ter sido feito “em breve”, já se arrasta há quase um ano — e os compradores continuam morando no local.
De acordo com o advogado Cassiano Ferrari, que representa a vítima, o problema começou na elaboração do contrato. “O casal se comprometeu a pagar parcelas de R$ 1.500 até conseguir o financiamento, mas o documento não estabelecia prazo para a conclusão desse processo. Isso abriu brecha para que eles procrastinassem indefinidamente”, explicou.
Segundo ele, o casal chegou a propor que o imóvel fosse financiado pelo Banco do Brasil, mas exigindo uma redução de 50% no valor da casa, algo inviável. “É como se dissessem: ‘para caber no meu bolso, abaixe o preço pela metade’. Isso não existe”, destacou o advogado.
Inicialmente, as parcelas eram depositadas diretamente na conta da vendedora, mas depois passaram a ser feitas por depósito judicial, sem determinação da Justiça. “Essa manobra atrapalha a vida da minha cliente, pois cada retirada do valor precisa ser autorizada por alvará, o que leva dias ou até semanas”, relatou Cassiano.
Decisão judicial
O advogado afirma que já há uma decisão favorável de primeiro grau, determinando a reintegração de posse e o pagamento de multa por inadimplemento. O processo segue em tramitação, podendo subir para segunda instância caso a parte contrária recorra.
Durante o andamento da ação, a gestora comercial descobriu que não foi a primeira vítima do casal. “Ela soube que outras pessoas já tiveram problemas semelhantes com eles”, disse o advogado.
‘Acreditei que eram pessoas de bem’
Em entrevista ao SBT Cuiabá, a vítima contou que confiou no casal por parecerem uma família tranquila. “Eles diziam onde trabalhavam, apresentavam os filhos, os sogros… Falavam com tanta naturalidade que pareciam de confiança”, lembra.
A casa era o único bem da família, onde moravam ela, a mãe e o filho de 5 anos. Com a venda frustrada, a vítima agora vive de aluguel, perdeu o carro e enfrenta dívidas. Além disso, teve complicações de saúde após cirurgias e desenvolveu crises de ansiedade.
“Meu nome ficou sujo, estou cheia de dívidas e meu filho precisou fazer terapia. Tudo isso me abalou demais. É triste confiar em alguém e ser enganada dessa forma”, lamentou.
Ameaças e intimidação
A vítima também afirma ter sido intimidada pelos compradores. “O marido dela me coagiu várias vezes, dizia que era amigo de desembargador e que o processo demoraria anos. Ela gritava comigo em áudios, mandando eu ‘ir trabalhar’, mesmo sabendo que eu estava de atestado médico”, relatou.
Depois da experiência, a mulher faz um alerta a quem pretende vender um imóvel. “Não confie em promessas. Procure um advogado imobiliário ou corretor de confiança antes de fechar qualquer negócio. Eu tinha um advogado, mas acabei deixando me convencer. Hoje vejo que não dá para confiar em ninguém”, concluiu.
