A presença das mulheres no mercado de trabalho de Mato Grosso vem crescendo, mas a desigualdade salarial permanece expressiva. De acordo com o 4º Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), as mulheres recebem, em média, 27,9% menos que os homens nas empresas com 100 ou mais funcionários no estado.
O levantamento analisou dados de 54.041 empresas em todo o país, com base nas informações da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), entre o segundo semestre de 2024 e o primeiro semestre de 2025. No total, foram avaliados 19,4 milhões de vínculos trabalhistas, sendo 41,1% de mulheres e 58,9% de homens.
A remuneração média feminina é de R$ 3.908,76, enquanto a dos homens chega a R$ 4.958,43. Em Mato Grosso, o percentual de diferença salarial coloca o estado entre os cinco piores do país — ao lado do Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina — todos com 27,9% de desigualdade.
“É preciso que as empresas avancem na construção de planos de ação que promovam a igualdade salarial entre homens e mulheres. Precisamos acelerar esse processo”, afirmou Paula Montagner, subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho do MTE.
Avanços lentos e persistentes desigualdades
De 2023 a 2025, a proporção de mulheres ocupadas no país subiu de 40% para 41,1%, o que representa um aumento de cerca de 800 mil novas trabalhadoras, passando de 7,2 milhões para 8 milhões de mulheres empregadas. Mesmo assim, o avanço ainda não se refletiu na renda: se a massa salarial acompanhasse a participação feminina, seriam adicionados R$ 92,7 bilhões à economia brasileira.
A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, destaca que o desafio vai além do acesso ao emprego.
“A inserção das mulheres no mercado não basta. É inaceitável que mulheres negras recebam metade do rendimento de homens não negros. Precisamos intensificar medidas que corrijam essas distorções, ampliar políticas de apoio como licença-paternidade e auxílio-creche, e engajar a sociedade na redistribuição do trabalho doméstico e de cuidado”, afirmou.
O relatório mostra ainda que a diferença nos salários medianos de admissão entre mulheres negras (R$ 1.836,00) e homens não negros (R$ 2.764,30) é de 33,5%, e no rendimento médio total, a diferença chega a 53,3%.
Por que as mulheres ganham menos
As empresas apontaram como principais fatores que explicam as diferenças salariais o tempo de experiência na empresa (78,7%), metas de produção (64,9%) e o plano de cargos e salários (56,4%).
Apesar disso, o relatório mostra avanços: cresceu 21,1% o número de empresas com pelo menos 10% de mulheres negras, e aumentou em 6,4% o número de empresas com diferença salarial de até 5% entre homens e mulheres.
Fiscalização e transparência
Em 2025, o MTE intensificou as fiscalizações: foram 787 ações em todo o país, alcançando cerca de 1 milhão de empregados e resultando em 154 autos de infração. As empresas precisam comprovar que publicaram o Relatório de Igualdade Salarial, como determina a Lei 14.611/2023, sancionada em julho de 2023.
Das 54.041 empresas avaliadas, 38.233 (71%) baixaram o relatório em outubro, e cerca de 31 mil divulgaram o endereço eletrônico onde o documento está disponível ao público.
A legislação reforça o que já é previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) desde 1943 — a igualdade salarial entre homens e mulheres —, mas que ainda é frequentemente descumprida.
Ações para promover diversidade e parentalidade
O relatório também identificou iniciativas de inclusão em empresas brasileiras:
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38,9% têm políticas de promoção de mulheres;
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29,6% adotam incentivos à contratação feminina;
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23,1% estimulam a contratação de mulheres negras;
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19,7% contratam mulheres com deficiência;
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18,9% priorizam mulheres chefes de família;
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7,3% oferecem apoio a mulheres vítimas de violência.
Entre as medidas de apoio à parentalidade, 21,9% das empresas oferecem auxílio-creche, 20,9% adotam licença parental estendida, e 44% permitem jornada de trabalho flexível — fatores que, segundo o MTE, são essenciais para equilibrar a vida profissional e familiar das mulheres.
Mato Grosso no contexto nacional
Mesmo com a desigualdade persistente, especialistas avaliam que o aumento da presença feminina no mercado de trabalho mato-grossense é resultado de uma combinação de fatores: ampliação da escolaridade das mulheres, inserção em setores como serviços, educação e agronegócio, e fortalecimento de políticas públicas de incentivo à contratação.
Ainda assim, o desafio continua. Em Mato Grosso, as mulheres seguem ocupando menos cargos de liderança e enfrentando maiores obstáculos para alcançar remuneração igualitária — um cenário que, segundo o MTE, só deve mudar com comprometimento empresarial e fiscalização contínua.
“A transparência é um instrumento poderoso. Só com dados claros e planos de ação concretos poderemos reduzir as desigualdades e garantir um mercado de trabalho mais justo para todos”, concluiu Paula Montagner.



























